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22/02/2021

Carta aberta à ANS em defesa das pessoas com Diabetes Tipo 2

Fonte: www.sbcbm.org.br

Em um momento em que as doenças crônicas são fatores de risco para a Covid-19, o tratamento cirúrgico para pacientes com Diabetes Tipo 2 – que não conseguem o controle da doença por meio de medicamentos – não terá a cobertura dos planos de saúde.

Isso porque durante reunião da diretoria colegiada da Agência Nacional de Saúde (ANS), realizada no dia 10 de fevereiro, a área técnica manteve a recomendação de não inclusão do procedimento no rol de procedimentos obrigatórios dos planos de saúde.


A Sociedade Brasileira de Cirurgia Bariátrica e Metabólica (SBCBM) se pronunciou a respeito numa carta aberta.


Leia o texto na íntegra:



No último dia 10 de fevereiro, a Agência Nacional de Saúde Suplementar (ANS), a despeito do volume de evidências e recomendações, anunciou sua decisão de não incluir a cirurgia bariátrica/metabólica para os portadores de diabetes tipo 2, um dos tratamentos recomendados para aqueles que estão obesos e não conseguem controlar a doença.


A se manter essa decisão, os usuários dos planos de saúde que sangram seu orçamento todos os meses para ter acesso a uma medicina de qualidade continuarão desassistidos, desamparados, órfãos da proteção do órgão que deveria resguardá-los.


A ANS se recusa a ouvir a ciência, o Conselho Federal de Medicina, que escrutinou todas as evidências e regulamentou o procedimento desde 2017. Não ouviu a Sociedade Brasileira de Cirurgia Bariátrica e Metabólica nem o Colégio Brasileiro de Cirurgiões e nem o Colégio Brasileiro de Cirurgia Digestiva. Não ouviu os Hospitais Sírio Libanês e Oswaldo Cruz. Também não ouviu a voz das universidades, da UNICAMP, da UFPR, da UFPE, e de tantas outras que contestaram através da Consulta Pública que a própria ANS promoveu. Não considerou as recomendações das mais de 50 entidades médicas internacionais.


A ANS foi surda e muda para com as centenas de contribuições de familiares, pacientes e associações de pessoas com diabetes, como a ADJ Brasil, que manifestaram seu anseio por uma chance de melhorar suas vidas e se afastarem das sequelas do diabetes.


A ANS não leu as dezenas de estudos randomizados, duplos-cegos, publicados nas maiores revistas médicas do mundo.


A ANS não ouviu o choro e o lamento de milhares de pacientes e de familiares que diariamente se deparam com uma perna amputada, a visão perdida ou a função renal substituída por uma máquina de hemodiálise.


A ANS não olhou para a lista de comorbidades das mais de 200 mil vítimas da covid-19 no país, onde obesidade e diabetes são os principais cúmplices do vírus para aqueles que perderam a vida antes dos 65 anos de idade.



A ANS não ouviu os mais de 1.500 depoimentos da sua própria consulta pública que foram contra sua recomendação, 99% do total de contribuições, prova cabal de que tudo foi uma mera encenação para dar ar de legitimidade ao processo. Estranhamente, a ANS ouviu as 18 contribuições (apenas 1% do total) que apoiaram a negativa de cobertura. Não por acaso, 14 delas oriundas dos planos de saúde ou seus representantes.



A ANS ignorou que bastam 10 centavos por mês, por usuário, para oferecer esse tratamento à população que necessita e, com isso, retirar da fila das amputações, das hemodiálises e das unidades coronarianas, milhares de pessoas com diabetes grave e sem controle.


Mas, nós, que estamos na linha de frente do tratamento dessas pessoas e que olhamos nos olhos dos pacientes e nos de suas famílias, que buscamos com o amparo da ciência e da ética defender a vida, não nos renderemos, não transigiremos com a inépcia nem com o descaso.

Apelamos aos diretores da ANS para que no seu último momento reconsiderem essa incompreensível atitude e não amputem a esperança das pessoas com diabetes no Brasil.


SBCBM – Sociedade Brasileira de Cirurgia Bariátrica e Metabólica


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